quinta-feira, 26 de maio de 2011


" Mas a saudade mais dolorida é a saudade de quem se ama. Saudade da pele, do cheiro, dos beijos. Saudade da presença, e até da ausência consentida. Você podia ficar na sala e ele no quarto, sem se verem, mas sabiam-se lá. Você podia ir para o aeroporto e ele para o dentista, mas sabiam-se onde. Você podia ficar o dia sem vê-lo, ele o dia sem vê-la, mas sabiam-se amanhã.
Saudade é não saber. Não saber mais se ele continua se gripando no inverno. Não saber mais se ela continua clareando o cabelo. Não saber se ele ainda usa a camisa que você deu. Não saber se ela foi na consulta com o dermatologista como prometeu. Não saber se ele tem comido frango de padaria, se ela tem assistido as aulas de inglês, se ele aprendeu a entrar na Internet, se ela aprendeu a estacionar entre dois carros, se ele continua fumando Carlton, se ela continua preferindo Coca, se ele continua sorrindo, se ela continua dançando, se ele continua pescando, se ela continua lhe amando. Saudade é não saber. Não saber o que fazer com os dias que ficaram mais compridos, não saber como encontrar tarefas que lhe cessem o pensamento, não saber como frear as lágrimas diante de uma música, não saber como vencer a dor de um silêncio que nada preenche. Saudade é não querer saber. Não querer saber se ele está com outra, se ela está feliz, se ele está mais magro, se ela está mais bela. Saudade é nunca mais querer saber de quem se ama, e ainda assim, doer.''




Acordou ás 8 com a cabeça pesada, latejando incessantemente, teve a impressão de que sairia arrastando-a pela casa a qualquer momento. Um pé na frente do outro, um café forte, uma brisa nova, e uma vontade irremediável de receber uma ligação, ou uma visita inesperada. E recebeu.
_ Alô...
_ Oi linda!
_ Oi, bom dia...
_ Desculpa te acordei? Você está com uma voz sonolenta! Se quiser ligo depois!
_ Hm...Pensei em você ontem e hoje, aleatoriamente...E não, não estava dormindo, é que...
_ Sério? Que gracinha! Queria te pedir um favor!


(...)

Não sabia o que havia sido pior, alguém tão importante não ter feito uma pergunta tão comum, ou o fato de não ter associado a "voz sonolenta" ao que ela realmente significava. Porra, era um simples "Você está bem?"

O tempo de fingir se tornara cada vez mais insólito, já não conseguia conter seus nós com tanta frequência, estava perdendo o controle que vinha mantendo com dificuldade e sabia que deveria retomá-lo o quanto antes.
Dobrou os cobertores (aqueles que....)
-Engole a dor-
Arrependendo-se profundamente por ter se permitido sentir tudo aquilo que um dia foi bom.

_Ei, você não deve arrepender-se, tudo na vida tem um propósito.

Não queria descobrir propósito nenhum, não queria compreensão, conselhos, nada. Era só chorar no colo de alguém, até adormecer e hibernar até parar de doer naquela dimensão. Ainda que parecesse, não era carência, era fraqueza: Estavam levando sua fonte embora, e não havia nada que seus braços poderiam fazer.

Antes não tivesse dormido.



Antes não tivesse acordado.

Um comentário:

Raquel Melo disse...

Você acabou de descrever meus dias!
É muito foda se sentir assim e a pior coisa que existe é essa tal de saudades...